sexta-feira, 31 de março de 2017

As Piores Novelas de Todos os Tempos - Anastácia, a Mulher sem Destino



Em homenagem ao último capítulo de A Lei do Amor, resolvemos começar uma série mostrando novelas igualmente ruins para que a novela de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari se sinta acolhida e protegida. O A.N.A. apresenta... As Piores Novelas de Todos os Tempos!

E para começar, escolhemos aquela que era hors-concours no quesito ruindade e é lembrada até hoje por conta disso:



Enredo

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"França, século XVIII. Aperta o cerco aos republicanos espalhados por todo o país. Em Paris, Henri Monfort (Henrique Martins) é um dos que lutam contra a monarquia vigente na época. Casado com Anastácia (Leila Diniz), ele planeja a fuga de sua família para o Castelo de Monfort, propriedade que acabara de herdar. Mas, na hora da partida, é preso, fazendo com que Anastácia e a filha recém-nascida do casal, Henriette, sigam sozinhas.
Vítimas de uma emboscada, as duas são separadas: Anastácia acaba prisioneira em um navio corsário; e Henriette passa a ser criada pelos camponeses Pierre (Ênio Santos) e Gaby (Míriam Pires), que desconhecem sua origem. A falta de notícias da filha faz com que Anastácia, aos poucos, enlouqueça.
Paralelamente, se desenrola a trama de Blanche (Aracy Cardoso), filha do Marquês de Serval. Com a morte de Bernard (Hugo Santana), seu grande amor, ela acaba se rendendo ao pedido do pai e casa-se com o comandante Fábio Orsini (Edson França), sem saber que está grávida. O filho de Blanche nasce quando seu marido está em uma expedição em alto mar. Antes de ser entregue a mãe, no entanto, o bebê é raptado pelo marquês e entregue aos camponeses Gaby e Pierre, os mesmos que cuidam de Henriette. Blanche acredita que a criança nascera morta.
Quando retorna de sua longa viagem, Fábio descobre que a mulher tivera um filho durante sua ausência e que, ao contrário do que todos acreditam, ele está vivo. Ao ficar sabendo da verdade, Blanche passa a dedicar sua vida à busca pela criança, indo quase à loucura".

A história é baseada no folhetim francês A Toutinegra do Moinho, de Émile de Richebourg. Isso era comum nos primórdios da televisão brasileira, já foram veiculadas por aqui diversas versões novelísticas de clássicos da literatura, como Os Miseráveis, O Morro dos Ventos Uivantes, A Moreninha, Gabriela, A Sombra de Rebecca e Sangue e Areia, respectivamente a antecessora e a sucessora de Anastácia. Mas a página da novela no site Wikipédia conta uma versão totalmente equivocada da trama, dizendo que Anastácia é, na verdade, filha do czar Nicolau II. Esta história não tem nada a ver com a novela de 1969, e sim com o filme de 1997.

Pra você ver a moral baixa que essa novela tem, até o site Memória Globo tira onda com a trama:

"Janete Clair estreou em novelas na TV Globo promovendo um terremoto que matava mais de 100 personagens de uma vez". 
"Apesar de baseada no folhetim francês 'A Toutinegra do Moinho', de Émile de Richebourg, a trama guarda poucas semelhanças com o original". 

Sim, a novela é muito mais famosa e lembrada até hoje por causa do fatídico terremoto que matou praticamente todo mundo da novela do que pela história em si! Saiba o porquê dessa decisão tão drástica.

Anastácia vinha mal de audiência. O autor não estava dando conta de tantos personagens criados e de escrever tantas tramas para eles. Para tentar dar jeito na coisa, Glória Magadan, a supervisora da trama e a autora mais badalada e bam-bam-bam da época, chama Janete Clair, que até então não era ninguém na fila do Bolsa Família. Veja o que Glória teria dito à sua discípula:



Janete leu, releu, treleu e provavelmente não entendeu nada daquilo. Então, tomou uma atitude corajosa e ousada, não só para a época, como ainda hoje: matar todo mundo. Como? Com um terremoto!

Imagina a cena: um telespectador incauto de 1967 liga a sua TV em preto-e-branco para assistir Anastácia e se depara com praticamente todos os personagens da novela mortinhos da silva!

Só que nem tudo era perfeito, Janete acabou matando junto o único personagem que sabia do segredo da trama. Ela também bolou uma passagem de tempo de 20 anos e passou a focar nos destinos da filha de Anastácia, Henriette, e de Blanche, Roger, que viraram os protagonistas da trama. A novela ganhou ares de melodrama, com um toque de ação e rivalidade entre os irmãos Roger e Jean-Paul, que brigavam pelo amor de Henriette, a.k.a. Rose, e da mãe Blanche.

Desfecho

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Henriette/Rose (Leila Diniz) e Roger (José Augusto Branco)
"No intuito de agradar Blanche, que sempre o tratou com desprezo, Fábio (Edson França) diz à mulher que finalmente encontrou seu filho, Jean-Paul (Cláudio Calvacanti). Na verdade, trata-se de um impostor. O menino tem um comportamento agressivo, mas Blanche está disposta a conquistar seu amor.
Já mais velhos e cansados, Gaby (Mirian Pires) e Pierre (Ênio Santos) encontram dificuldade para continuarem com as crianças. Henriette é adotada pelos duques de Forestier, assume a identidade de Rose, a filha morta do casal, e cresce sem nunca desconfiar de sua origem. Somente no final da trama, reencontra-se com Henri (Henrique Martins) e Anastácia. Roger, por sua vez, é deixado na porta da casa da família Orsini. Fábio o recebe e, ao descobrir que aquele é o legítimo filho de Blanche, decide esconder a verdade de sua esposa, dizendo tratar-se do neto de um antigo cocheiro. Resistente à idéia no início, Blanche acaba concordando em criá-lo, sempre deixando claro que existe uma diferença entre Roger e Jean-Paul.
Os dois crescem juntos. Roger (José Augusto Branco), preterido pela mãe, torna-se um grande cravista. E o interesse pela música acaba o aproximando de Rose/Henriette (Leila Diniz). Apesar da identificação quase imediata, eles não se recordam que foram criados juntos por Gaby e Pierre. Os dois se apaixonam e passam a viver um romance cheio de obstáculos, a começar pelos duques de Forestier, que não aprovam o envolvimento da filha com Roger. Jean-Paul (Claudio Cavalcanti), por sua vez, é cercado pelo amor e pelo carinho de Blanche. Mas, ao contrário do irmão, transforma-se num homem de caráter duvidoso. Ele também se encanta com Rose, formando assim um triângulo amoroso. A rivalidade entre Jean-Paul e Roger é o fio condutor da história nessa segunda fase da trama.
O conflito entre os dois jovens é acirrado quando Jean-Paul comete um assassinato, e Roger, atendendo ao pedido de Blanche, assume a culpa no lugar do irmão. Com isso, Rose acaba casando-se com Jean-Paul.
No final, o comandante Orsini revela à mulher que Roger é seu filho legítimo, deixando Blanche transtornada por tê-lo rejeitado durante anos. Jean-Paul confessa ser ele o assassino e, não resistindo ao cerco formado para capturá-lo, acaba se matando. Logo em seguida, Fábio descobre que o rapaz era seu filho, fruto de um relacionamento que tivera antes de casar-se com Blanche. A revelação deixa o comandante atormentado pela culpa de ter provocado a desgraça de seu próprio filho. Diante do sofrimento do marido, Blanche o perdoa por todo o mal que provocara com suas mentiras.
Roger, por sua vez, perdoa a mãe, pois entende que ela fora tão vítima da crueldade de Fábio quanto ele. Roger se transforma no maestro Orsini, conquistando toda a corte com sua música, e casa-se com Rose".

No fim, Anastácia não foi lá um grande sucesso de audiência, mas garantiu à Janete Clair um longo contrato com a Globo. Não sabemos como era medida a audiência naquele tempo, talvez o pessoal do Ibope saísse às ruas perguntando quem estava assistindo o quê na televisão ou fosse de casa em casa vendo o que as pessoas estavam assistindo na TV.

Curiosidades

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Dos atores principais, apenas José Augusto Branco (Roger), Henrique Martins (Henri de Montfort) e Aracy Cardoso (Blanche) estão vivos. Leila Diniz (Anastácia/Henriette/Rose) faleceu num desastre aéreo em 1972, aos 27 anos, no auge da fama, e Cláudio Cavalcanti (Jean-Paul) morreu em 2013, aos 73 anos, de falência múltipla dos órgãos.

Resultado de imagem para anastácia a mulher sem destinoFalando em Leila, ela era uma das atrizes mais famosas, badaladas e polêmicas naquele tempo. Falava palavrão, não ligava nem um pouco pras convenções sociais, chocou a família tradicional brasileira ao exibir a sua gravidez de biquíni na praia (hoje é normal, mas na década de 1960 era praticamente um atentado ao pudor) e disse frases como essas:

"Transo de manhã, de tarde e de noite"."Você pode muito bem amar uma pessoa e ir para cama com outra. Já aconteceu comigo".

Tamanha polêmica fez com que a Globo não renovasse o contrato com a atriz, alegando razões morais.

Anastácia foi a primeira e única novela do autor, Emiliano Queiroz. Ele preferiu seguir atuando e o fez muito bem, esteve em novelas como Irmãos Coragem e O Bem-Amado, vivendo personagens marcantes como Juca Cipó e Dirceu Borboleta, e mais recentemente, participou de Haja Coração.

Emiliano e o diretor geral Henrique Martins também atuavam na novela: Emiliano interpretou Pepe Le Coq e Henrique era Henri de Montfort, par romântico de Anastácia e pai de Henriette/Rose.

O diretor Régis Cardoso também se deu bem após Anastácia, dirigiu novelas como O Bem-Amado, a primeira versão de Anjo Mau e Locomotivas, além de ter sido casado com Suzana Vieira entre 1961 e 1972, com quem teve o filho Rodrigo. Ele faleceu em 2005, aos 70 anos, vítima de um AVC.

Depois dessa novela, Janete Clair foi se tornando uma novelista cada vez mais famosa e badalada, enquanto Glória Magadan começou a entrar em um estágio de decadência. Claro que isso gerou atritos entre as duas, Glória ficou fula da vida com isso. Ela acusou o diretor Daniel Filho de prestar maior atenção às produções de Janete, fazendo com que ele pedisse demissão da emissora, e atazanou a vida da rival, proibindo que Janete se comunicasse diretamente com o elenco. Glória acabou demitida em 1969 e tentou retomar o sucesso na Tupi, mas fracassou e se mandou para Miami, onde morreu em 2001. Já Janete continuou fazendo sucesso até sua morte, em 1983.

A propósito, neste ano, Anastácia, a Mulher Sem Destino completará 50 anos! Obviamente, só mesmo os noveleiros de carteirinha é que vão se lembrar da data. Nós já começamos as comemorações!

quinta-feira, 16 de março de 2017

O que A Lei do Amor e O Amor é Nosso têm em comum?



As duas novelas fracassaram na audiência e foram achincalhadas pela crítica. Só pelo título já dá pra saber que A Lei do Amor e O Amor é Nosso têm muito em comum. Além disso, veja outras características que as duas novelas compartilham:

Dois autores "estreantes"A Lei do Amor é escrita por Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, a primeira novela da dupla no horário nobre como autores principais. Maria Adelaide já tinha escrito Meu Bem Meu Mal em parceria com Cassiano Gabus Mendes. Vincent é estreante como autor titular nas novelas das 9, mas já foi colaborador de A Favorita, com João Emanuel Carneiro. O Amor é Nosso era de autoria de Roberto Freire e Wilson Aguiar Filho. Roberto, um psiquiatra, nunca tinha escrito novelas, e Wilson estava estreando no horário das 7. Dizem que duas cabeças pensam melhor que uma, mas nesses dois casos não deu muito certo.

Imagem relacionadaUm protagonista chamado Pedro que briga com o pai e sai de casa: Uma curiosidade envolvendo as duas novelas é a repetição do nome Pedro para o protagonista. Os dois tinham objetivos distintos: o de Fábio Jr. queria ser cantor e o de Reynaldo Gianecchini quer desmascarar as maldades de sua madrasta Magnólia (Vera Holtz), mas fizeram escolhas em comum: saíram de casa após brigarem com os pais e foram morar em um lugar com muita gente.
Resultado de imagem para o amor é nosso pedroO Pedro de O Amor é Nosso se mudou para uma república e o Pedro de A Lei do Amor foi morar na pensão da dona Zuza (Ana Rosa) depois de passar anos viajando pelo mundo. Além deste, ambas as novelas tinham personagens chamados Bruno (Buza Ferraz/Armando Babaioff), Leonardo (Stênio Garcia/Eriberto Leão), Laura (Isabel Ribeiro/Heloísa Jorge), Suzana (Liza Vieira/Regina Duarte) e Celso (Nelson Dantas/Marcelo Várzea).

Muitos jovens no elenco: O Amor é Nosso era pra ser uma novela voltada para os jovens, seu comportamento e sua maneira de amar. Já A Lei do Amor teve jovens na primeira e na segunda fase: os protagonistas e outros personagens apareceram com cerca de vinte anos nos primeiros capítulos e agora vemos seus filhos, sobrinhos, afilhados, amigos e chegados.

Personagens inúteis: As duas novelas contam com vários personagens que não servem pra nada, sendo verdadeiros figurantes de luxo. Muitos deles do núcleo jovem da novela.

Imagem relacionadaUm padre: Em O Amor é Nosso, o padre Leonardo (Stênio Garcia) era um tipo que queria revolucionar a Igreja Católica. Já o padre Paulo (César Mello) de A Lei do Amor não tem essa preocupação. Acreditava na generosidade de Mág e até colaborava em seus projetos sociais.

Autor experiente que entra no meio da novela para tentar dar jeito na coisa: Com o fracasso das novelas, autores foram designados para reescrever o texto. O Amor é Nosso contou com o auxílio de Walther Negrão, o autor de Sol Nascente, que se livrou de alguns personagens e tramas através de uma passagem de tempo e deu mais enfoque ao romance. A Lei do Amor conta com a inglória ajuda de Ricardo Linhares, um dos autores de Babilônia, que segundo seus críticos, teria desfigurado a novela com suas interferências, mudando drasticamente o caráter dos personagens, criando situações esdrúxulas e sem sentido.

Resultado de imagem para a lei do amor zelito e wesleyTramas eliminadasO Amor é Nosso tinha uma trama policial envolvendo o sumiço da personagem Cíntia (Simone Carvalho). O pai e a tia da moça acusavam o padre Leonardo, já que ele e a jovem eram próximos. Mas com as mudanças no roteiro, essa trama foi eliminada. Já A Lei do Amor tinha um viés político muito forte, com vários personagens bons ou maus envolvidos em uma disputa eleitoral pela prefeitura de São Dimas, mas isso foi deixado de lado. Assim como o relacionamento entre o frentista Wesley (Gil Coelho) e Zelito (Danilo Ferreira), que foi descartado antes mesmo de começar com a morte inesperada do rapaz negro.

Personagens sumidos: Claro que com as mudanças de rumo das duas novelas, muitos personagens desapareceram. Para O Amor é Nosso, foi cogitado repetir o terremoto de Anastácia, a mulher sem destino, e também um ônibus da morte para sumir com os personagens mais inúteis da trama, mas tudo isso foi descartado por Negrão, que preferiu simplesmente encerrar as tramas desses personagens. Já A Lei do Amor tentou uma espécie de rodízio, tirando alguns personagens por uns tempos e colocando os vilões para assassinar outros, como o jornalista Élio (João Campos), a mais recente baixa.

Número de capítulosO Amor é Nosso estreou em 27 de abril de 1981 e terminou em 23 de outubro do mesmo ano, durando quase seis meses e com 155 capítulos. A Lei do Amor estreou em 3 de outubro de 2016 e está prevista para terminar em 31 de março de 2017, durando os mesmos quase seis meses e com os mesmos 155 capítulos.

Resultado de imagem para sílvio de abreuSílvio de Abreu: O atual diretor do Departamento de Dramaturgia da Globo foi quem aprovou a A Lei do Amor, que está ocupando o espaço que seria de uma novela do Sílvio, alterou sua ordem de exibição (a atual novela viria após A Regra do Jogo) e está supervisionando as mudanças no enredo. Ele foi o autor da sucessora de O Amor é Nosso. Jogo da Vida, que fez muito sucesso, e também da antecessora, Plumas e Paetês, substituindo Cassiano Gabus Mendes, que sofreu um enfarto e teve que se ausentar da trama. O curioso é que Plumas não estava indo bem de audiência até Sílvio mexer na trama, mudando os destinos de alguns personagens como a protagonista Marcela, outrora uma moça simples do interior que era obrigada a assumir a identidade de Júlia após um acidente de carro no qual só ela sobreviveu, e que se tornou uma mulher dissimulada, oportunista e trapaceira que tentava manter sua mentira a todo custo. Os protagonistas de A Lei do Amor também experimentaram uma mudança de caráter, com destaque para Pedro, que abominava a traição do pai na primeira fase e recentemente traiu Helô com Laura.

E ainda: Ninguém de O Amor é Nosso está ou esteve em A Lei do Amor. Só a trilha sonora das duas tramas que têm um cantor em comum: Milton Nascimento, que teve a canção Sentinela no CD de O Amor é Nosso e a música Maior, em parceria com Dani Black no volume 2 do CD de A Lei do Amor.

Para encerrar esse post, deixo uma crítica que Artur da Távola fez no jornal O Globo de 25 de outubro de 1981, após o término de O Amor é Nosso que cabe perfeitamente em A Lei do Amor:

"Muito difícil fazer um balanço crítico de O Amor É Nosso. Diante de tantas alterações, impossível analisar a obra. Não há obra. A novela acabou descosida, diferente, desossada, embora de certa forma divertida. Mas morrerá sem deixar saudades (...) A novela ficará como essas pessoas que morrem jovens: partem cheias de promessas e esperanças do que poderiam ter sido, se tivessem vindo a ser".